quinta-feira, 31 de agosto de 2017

marcha das mulheres

Grande Expediente - dia 29 de agosto

NOTA DE REPÚDIO - Marcha Mundial das Mulheres - Corine Scherer

                Na segunda semana deste mês de agosto, o movimento Marcha Mundial das Mulheres recebeu uma denúncia dos moradores da cidade de Esteio, de ambos os gêneros, por conta da publicação de um texto reproduzido na Revista Popular, cujo conteúdo faz apologia à violência doméstica.
 Este periódico que é produzido em Esteio, circula gratuitamente nos comércios, em órgãos públicos, e demais locais do município onde é folheado livremente por pessoas de todas as idades, incluindo homens, mulheres, adolescentes e algumas crianças já alfabetizadas.
Além de trazer algumas notícias da região, a revista possui uma coluna fixada na página quatorze (14), chamada de “O Bom Humor Popular – Se Você Achar Fracas as Piadas Passe na Redação Para Ouvir Aquelas que Não Podemos Contar”, onde o propósito é publicar piadas de cunho popular para entreter os leitores, porém a presença de uma destas publicações acabou tornando-se o alvo central das denúncias que recebemos.
O objeto desta nota de repúdio que trazemos ao conhecimento de toda a comunidade é um pequeno texto intitulado “O Arroz Milagroso”, que relata satiricamente a agonia de uma mulher que sofre violência doméstica por parte do esposo, e ao solicitar auxílio psicológico a um profissional da saúde, é ridicularizada e aconselhada a colocar um arroz na boca para permanecer calada e não reclamar mais ao marido quando este chega bêbado em casa, porque mulher que fica de boca fechada não apanha.  
Este texto que tem a função de ser uma “piada”, humilha e denigre claramente a imagem da mulher, induzindo o comportamento machista de que todas as mulheres que sofrem com a violência doméstica devem permanecer caladas diante do agressor, como se isto fosse uma fórmula mágica para que mais agressões não viessem a se repetir, e que marcas da agressão sofrida não deixassem vestígios.
O responsável pela publicação deveria de ter o mínimo de conhecimento e vivência para saber que o tema de violência contra a mulher não é engraçado, pelo contrário, é grave, e não deveria ser publicado em uma revista de ampla tiragem e de livre circulação sob a forma de uma anedota de baixo nível. Como bem sabemos, a violência doméstica no Brasil é um crime inafiançável, e sua apologia também se figura como um delito.
A lei que protege as mulheres foi criada em 2006, onde a Presidência da República sancionou a Lei n° 11.340, conhecida popularmente em todo o território nacional pelo nome de Lei Maria da Penha, cujo objetivo é criar mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do parágrafo 8 do artigo 226 da Constituição Federal, e de outros tratados internacionais ratificados pela República Federativa do Brasil, dispondo sobre a criação dos juizados de violência doméstica e familiar; e estabelecendo medidas de assistência e proteção às mulheres nesta situação. 
A violência doméstica configura-se por qualquer ação ou omissão baseada no gênero que cause morte, lesão corporal, sofrimento físico, sexual, psicológico, dano moral e patrimonial.

De acordo com dados publicados no IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), no ano de 2016, houve um crescimento de 133% no volume de relatos de violência doméstica e familiar em todos os estados, e a Central de Atendimento à Mulher - Disque 180, identificou ainda o aumento de 123% no número de relatos de violências sexuais, índices decorrentes dos relatos de estupros que cresceram 147%, chegando a novos 2.457 casos, uma média de 13 registros por dia.
O levantamento do Datafolha apontou que 40% das mulheres acima de 16 anos já sofreram algum tipo de assédio, o que inclui desde receber comentários desrespeitosos nas ruas, sofrer assédio físico em transporte público, e ser beijada ou agarrada na rua sem consentimento.
Em 2017, ao invés do cenário ter melhorado, a sensação da maioria dos brasileiros é de que a violência contra a mulher aumentou ainda mais, e a maior parte das mulheres acreditam no mesmo. Mais dados do Datafolha apontam que das mulheres que sofreram algum tipo de violência doméstica, apenas 11% procuraram uma delegacia de polícia, 13% buscaram amparo no ambiente familiar, e alarmantes 52% destas mulheres permaneceram caladas sem denunciar seus agressores.
A direção da Revista Popular certamente não tem conhecimento destes dados, e também não se importa com o crescimento da violência contra a mulher, apesar da existência da Lei Maria da Penha. Para sua direção, ainda é muito mais interessante que estes índices aumentem, para que novas piadas misóginas continuem a ser publicadas neste pasquim, para o divertimento de poucos e vergonha de muitos.
Nós que formamos a Marcha Mundial das Mulheres queremos agradecer à todas as pessoas que se manifestaram contra esta publicação, e que apontaram ainda, mais fatos graves e abusivos ainda nesta mesma coluna.
Queremos solicitar à Revista Popular que pare com este tipo de publicação, que filtre os seus conteúdos, que não seja um veículo que dissemina a irracionalidade ao ridicularizar a figura da mulher, e que não propague o retrocesso, porque o nosso país precisa avançar e combater os crimes de violência contra a mulher. Essa é a função da Lei, e esta é a nossa função enquanto cidadãs e cidadãos brasileiros.
Porque ficar de “boca fechada” não resolve.
Porque a gente luta pelo fim da violência contra a mulher.
O machismo Mata!


Esteio, 14 de agosto de 2017.

Marcha Mundial das Mulheres.

Agradecimento a redação de Natália Bettim